Fazer instrumento foi a arte de Rossi

Nos últimos 10 anos, foram personagens das reportagens do Ipiranga News diversos moradores que se destacaram por feitos na área musical e uma dessas pessoas era especialista na arte de garantir que outros mostrassem sua arte. Era um dos mais conceituados fabricantes de violinos, violas e celos do Estado, o ex-industrial João Rossi, que faleceu em 23 de abril de 2003, com 85 anos. Rossi produziu instrumentos que se espalharam pelo exterior e por famosas orquestras brasileiras. Os filhos do luthier (profissional especializado na construção e no reparo de instrumento de corda), Danton Sérgio e Marcos Rossi afirmaram que o pai iniciou tardiamente no ofício de montar instrumentos – aos 60 anos. “E amava. Todos os dias ele acordava por volta de 9h, tomava um belo café da manhã e depois se dirigia ao seu atelier, onde podíamos esquecê-lo pelo resto do dia”, disse Marcos. Eles fizeram questão de frisar que o último instrumento construído pelo pai foi em 1987. “Ele deixou como lembrança uma viola e dois violinos que nós insistimos para que não fosse vendido”, afirma a viúva Geraldini. O ateliê continua intacto, do jeitinho que ele deixou. “A memória de um luthier nunca morre”. João Rossi foi destaque na edição 13, de 08/01/98. O paulistano nasceu na Vila Mariana em 23 de junho de 1917 e residiu no Ipiranga durante toda a vida. A reportagem do Ipiranga News informava que, até a ocasião, o filho de imigrantes italianos já havia fabricado 26 violinos e 44 violas. “A princípio essa atividade era para mim como um hobby, mas depois passou a ser uma profissão devido à demanda do mercado”, explicou Rossi, na época com 80 anos. Ele mantinha sua oficina nos fundos de sua residência (rua Costa Aguiar, 1142). O luthier foi industrial no Ipiranga, mas com o passar do tempo, queria preparar algo que pudesse fazer sem muito esforço, em sua velhice e acabou optando pela arte de fazer instrumentos musicais. Ele se considerava um autodidata. Consultou um profissional de carreira, Guido Pascoali, no Rio de Janeiro. “Ele me deu algumas dicas e eu depois, através dos livros fui me inteirando sobre como é construído um instrumento musical”, disse Rossi. Ele esclareceu à reportagem que fazer um violino “é bastante difícil”. Rossi já teve também 26 alunos, mas “infelizmente, nenhum deles chegou ao ápice do que é necessário para a construção de um instrumento bom”, afirmou, lamentando que para fazer um instrumento de primeira linha é necessário madeira importada, “com uma pequena desvantagem: a gente aceita o que eles mandam e não o que a gente escolhe”, complementou. Rossi não ficou rico fabricando instrumentos musicais. Ele fez questão de dizer que obteve a sua independência econômica como industrial. Foi dono de uma tinturaria no Sacomã e depois passou a prestar assessoria para a montagem de outras indústrias. Para passar o tempo João Rossi se dedicava apenas a reparos em violinos, violas, celos e baixos, onde ele tinha uma clientela muito grande. Eram profissionais da música de vários pontos do Brasil que traziam seus instrumentos para serem consertados na pequena oficina dele. O fato mais interessante na vida do luthier é que, depois de trabalhar tanto tempo mexendo com instrumentos, ele confessou que não sabe tocar nenhum deles, por não ter aptidão. Rossi tinha um cunhado violinista que insistiu para que ele aprendesse. “Fiquei tocando durante quatro meses, mas acontece que eu tocava violino e meu pensamento estava no atelier. Não adiantava nada”, confessou sem nenhum ressentimento em não ter aprendido a arte musical, preferindo optar pela arte de construir instrumentos.

Fonte: Revista Ipiranga News