Música Medieval

Música medieval é o termo dado à música típica do período da Idade Média durante a História da Música ocidental europeia. Esse período iniciou com a queda do Império Romano e terminou aproximadamente no meio do Século XV. Determinar o fim da Era medieval e o início da Renascença pode ser arbitrário; aqui, para fins do estudo de Música, vamos considerar o ano de 1401, o início do Século XV. 

Melodia gregoriana - A rápida expansão do cristianismo exige um maior rigor do Vaticano, que unifica a prática litúrgica romana no século VI. O papa Gregório I (São Gregório, o Magno) institucionalizou o canto gregoriano, através de uma reforma litúrgica, que se tornou modelo para a Europa católica. A notação musical sofre transformações, e os neumas são substituídos pelo sistema de notação com linhas a partir do trabalho de vários sacerdotes cristãos, sobretudo, Guido D'Arezzo (992-1050); que foi o responsável pelo estabelecimento desse sistema de notação musical de onde se originou a atual pauta musical. Foi ele, que no século XI designou as notas musicais como são conhecidas atualmente, usando o texto de um hino a São João Batista (originalmente em latim), onde cada estrofe inicia com uma nota musical: anteriormente, as notas eram designadas pelas sete primeiras letras do alfabeto latino. Desse modo, as notas musicais passaram a ser chamadas UT, RE, MI, FA, SOL, LA e SI. Posteriormente o nome DO substituiu o UT. O nome da nota SI formou-se das letras iniciais do último verso do hino como pode ser visto a seguir:

Ut queant laxis Resonare fibris Mira gestorum Famuli tuorum Solve polluti Labii reatum Sancte Ioannes 

Que significa:

"Para que teus servos, possam ressoar claramente a maravilha dos teus feitos, limpe nossos lábios impuros, ó São João."

 

Cantochão

Cantochão é a denominação aplicada à prática monofônica de canto utilizada nas liturgias cristãs, originalmente desacompanhada. Historicamente, diversas formas de rito cristãos – como a Moçárabe; Ambrosiana ou Gregoriana – organizaram a música utilizada em repertórios, a partir daí intitulados a partir do rito do qual fizéssem parte: Canto Gregoriano; Canto Moçárabe e Canto Ambrosiano, por exemplo. Formadas principalmente por intervalos próximos como segundas e terças, melodias do cantochão se desenvolvem suavemente, sendo o ritmo baseado na prosódia dos textos em latim. O cantochão é o principal fundamento da chamada música ocidental, sobre o qual toda a teoria posterior se desenvolve, ao contrário de outras artes que apontam para a época clássica da civilização greco-romana, ou até mesmo fontes anteriores. O cantochão é também a música mais antiga ainda utilizada, sendo cantada não só em Mosteiros como também por coros leigos no mundo todo.
Manuscrito de Cantochão exposto na Igreja de São Francisco em Évora

 

Terminologia
 É importante se ressaltar que, apesar de hoje se conceituar sob o título de cantochão o canto monofônico cristão em práticas mais antigas ou recentes, o termo somente surgiu por volta do século XIII para diferenciá-lo das práticas de canto com ritmo mensurável.  Uma certa imprecisão terminológica, porém, ainda conceitua cantochão como sinônimo de Canto Gregoriano. Isso se dá em grande parte pelo fato de que o repertório gregoriano, quando restaurado pelo mosteiro de Solesmes, foi a prática de cantochão tomada como padrão na Igreja Católica a partir do início do século XX, como se verá a seguir. Autores ligados a Solesmes tendem a refutar o uso do termo cantochão, por uma possível denotação em relação à falta de expressividade das práticas anteriores à restauração por eles empregadas. Recortes históricos definidos trazem um emprego terminológico mais seguro. Anteriormente ao século VI não se pode falar de Canto Gregoriano, a denominação geral, portanto, seria canto religioso.  Denominações específicas se aplicam aos outros repertórios em uso antes de Gregório Magno, como Canto Ambrosiano, Canto Moçárabe ou Canto Galicano. Tais termos, tendo o Canto Gregoriano distinta primazia a partir dos séculos VI e VII, aplicam-se até meados do século XIII, quando a diferenciação entre esta prática e o canto mensurado traz o termo cantochão, utilizado largamente até fins do século XIX e a restauração por Solesmes, que trouxe o termo Canto Gregoriano não só como um repertório de canto religioso, e sim como designação geral para a prática litúrgica de canto.
    História
Surgido nos núcleos da Igreja em Constantinopla, Roma, Antióquia e Jerusalém, o cantochão se diversifica em diversos ritos como o Ambrosiano, o Gregoriano, o Galicano, o Romano Antigo e o Rito-Moçárabe. Apesar de se creditar a unificação dos Ritos a São Gregório Magno, somente na época carolíngea esta aconteceu, com o canto romano utilizado no império carolíngio suplantando algumas outras formas e denominado então de Canto Gregoriano. O Canto Ambrosiano é cantado atualmente nos arredores de Milão, e, talvez ainda se cante o canto Moçárabe em Toledo.
Tipos
 O cantochão pode ser dividido quanto a categoria, forma e estilo: quanto a categoria pode ser dividido com os que cantam textos bíblicos e os que usam texto não bíblicos; e cada um destes pode ainda ser dividido nos que usam texto em prosa e os que usam textos poéticos. Exemplos:
  • Categoria:
    • Textos bíblicos
      • Textos em prosa (as lições do Ofício Divino, as epístolas e o Evangelho da missa).
      • Textos poéticos (os Salmos e os Cânticos).
    • Textos não bíblicos
      • Textos em prosa (o Te Deum e várias antífonas incluindo as marianas)
      • Textos poéticos ((os hinos e as sequências de cultos e Missas)
O Cantochão pode também ser classificado em sua forma (como cantado):
  • Forma
    • Antifonal: dois coros cantam versos com um refrão, alternadamente;
    • Responsorial: solistas cantam os versos e o coro canta o refrão;
    • Direta: os cantores cantam os versos e não há refrão.
Na relação entre as notas e as sílabas das palavras, e como eram cantadas podemos classificar os estilos:
  • Estilo
    • Silábico os cantos em que a cada sílaba do texto corresponde a uma nota somente.
    • Melismático os cantos em que uma única sílaba de uma palavra canta longas passagens de notas.
    • Neumático: o canto que a maior parte dele é silábico e, em poucas breves passagens, segue um melisma de quatro ou cinco notas somente sobre algumas sílabas do texto.

Música polifônica


Os sistemas de notação impulsionam a música polifônica, já em prática na época como a música enchiriades, descrita em tratado musical do século IX, que introduz o canto paralelo em quintas (dó-sol), quartas (dó-fá) e oitavas (dó-dó). É designado organum paralelo e no século XII cede espaço ao organum polifônico, no qual as vozes não são mais paralelas, mas sim independentes umas das outras. O Organum é a evolução do cantochão. Os compositores passaram a ornamentar mais as suas músicas usando mais de uma linha melódica dando origem ao organum:
  • Organum Paralelo: Era acrescentado uma linha melódica, a vox organalis (voz organal)duplicava a vox principalis (voz principal, que conservava o cantochão) em intervalos de quartas ou quintas.
  • Organum Livre: A vox organalis começou a se libertar da vox principalis, deixou de copiá-la diferenciando-se apenas com quintas ou quartas e passou a abaixar enquanto a voz principal se elevava (movimento contrário), conservava-se fixa enquanto a voz principal se movia (movimento oblíquo), seguia a mesma direção da voz principal mas não exatamente pelo mesmo intervalo (movimento direto). Mas o estilo de nota contra nota (enquanto uma voz canta em semínima a outra também em semínima…) continuava.
  • Organum melismático: o estilo nota contra nota foi abandoado. Uma melisma é quando uma sílaba é cantada por um grupo de notas, por isso Organum Melismático. Bons exemplos de melisma se encontram no Período Barroco, especialmente nas músicas de Bach.
Polifonia, em música, é uma técnica compositiva que produz uma textura sonora específica, onde duas ou mais vozes se desenvolvem preservando um caráter melódico e rítmico individualizado, em contraste à monofonia, onde só uma voz existe ou, se há outras, seguem a principal em uníssono ou à distância de oitava(s), ou apenas tecem floreios em torno da principal; à monodia, onde uma voz melódica é acompanhada ou não de acordes sem caráter melódico próprio, e à homofonia e ao contraponto, onde as várias vozes se movem com ritmo idêntico ou muito semelhante de modo a formar acordes nítidos, podendo elas ou não ter um caráter melódico próprio e pronunciado. A palavra vem do grego e significa várias vozes

No contexto da música erudita do ocidente polifonia usualmente se refere à música composta na Idade Média tardia e no Renascimento, quando era a técnica de composição mais usual, mas formas barrocas como a fuga também são claramente polifônicas. Num sentido estrito, significando simplesmente várias vozes, a polifonia também engloba a homofonia e o contraponto. 

Desde o princípio dos tempos a música é feita de maneira homofônica, ou seja, uma melôdia única, linear, com somente acompanhamento rítmico. Passa-se muito séculos da era cristã onde a monodia religiosa dominou a música ocidental com o Cantus Firmus e o Canto Gregoriano. No século X iniciou-se a idéia de sobrepor vozes em intervalos de oitavas e quintas. Este processo se desenvolveu e teve seu apogeu no século XV, onde a técnica do contraponto era altamente difundida. Tem-se por contraponto a técnica de contrapor melodias, ou seja, cantar melodias diferentes ao mesmo tempo. Este procedimento criou uma resultante musical nova, que era a verticalidade musical, isto quer dizer, notas musicais sobrepostas soando ao mesmo tempo. Com o temperamento esta nova técnica musical resultou na harmonia.
 

História

As primeiras obras polifônicas surgem na alta Idade Média, ainda no ambiente profano, sob a forma de cânones. A prova mais antiga existente de uma tentativa para estabelecer regras na polifonia primitiva da música ocidental se encontra em um método publicado no Século IX com o título em Latim, Musica enchiriadis. A música religiosa desenvolve o estilo a partir dos organa. A maioria das músicas desse período até o início do barroco serão predominantemente polifônicas. No século XX, a polifonia ainda alcançará um grande destaque com a técnica dodecafônica criada por Arnold Schoenberg, onde ela volta a assumir um aspecto linear como os contrapontos renascentistas, em oposição à harmonia movimentada, também chamada de contraponto, vigente no século XIX.
 

Polifonia em Instrumentos Musicais

Na verdade em instrumentos musicais eletrônicos, principalmente teclados, o termo se refere a capacidade desse instrumento tocar simultaneamente tantas notas quanto lhe couber ou puder. Isso é muito importante pois é dai a ser completo (ou bom) intrumento, ou não sobre sua capacidade instrumental, tanto ao se desempenhar uma melodia (tocando-se) quanto a reprodução de gravações, no caso midi. 

Os mais antigos teclados mal chegavam a 16 notas polifônicas (apenas 16 notas tocadas simultaneamente). Se levarmos em conta que um violão tem 6 cordas e mais um piano tocado a pelo menos 8 dedos, já dá quase essas 16, faltando a bateria e um baixo. Nisso então se precisaria pelo menos umas 32 vozes (ou notas) polifônicas pra dar conta desse quarteto que não representaria quase "nada" diante uma boa banda (imagine então uma orquestra). Há pelo menos 3 décadas que já existem teclados de 32 de polifonia além dos 64 (que eram muitos raros na época). 

Quanto mais avançado é um teclado, mais polifonia vai precisar. Teclados antigos, como da década de 80, de ate 64 vozes polifônicas já davam conta (na maioria das vezes). Mas pra teclados recentes e modernos como o sintetizador Fantom G8 por exemplo, talvez nem 128 sejam suficientes. Imagine então pra um Korg Oasys ou Korg M3, no seu desempenho e funções. 

Ocorre que a polifonia não somente um termo dos timbres originais internos acionado (tocados nas teclas) numa apresentação ao vivo. Imagine nesse citado G8, se montando patchs de ate 16 partes multi-timbrais (num único timbre, montagem de 16 outros sobrepostos ainda com efeitos e demais configurações). Fora isso, imagine ainda lhes sobre-pôr aftertouch com mais efeitos e outros timbres diferentes. E pra finalizar, imagine montar um belíssimo midi com tudo isso pra cada timbre (ou cada pista) e ainda se tocar simultaneamente um conjunto de timbres, desses citados, com esse midi super-dimensionado. Talvez nem uma capacidade de 128 notas polifônicas daria conta. 

Um dos dois: ou o teclado "travaria", ou então emudeceria em muitos timbres e notas, não dando conta se não tiver a correta capacidade polifônica necessária. 

Apenas nesse exemplo se chegaria facilmente a mais de 200 notas polifonicas de necessidade e teria muita nota não se ouvindo nesse citado G8. É claro que ninguem chegaria a tanto em se tocando ao vivo, mas num estúdio, ao se gravar passo a passo uma orquestra sinfônica, pode-se ate chegar perto dessas 128 notas de polifonia necessárias, na saída de audio para gravação ou pra mesa de som. Só pra se ter uma ideia, matemáticamente se poderia ate montar uma midi que toque ate 256 notas polifônicas (16 canais ou pistas a cada uma das 16 partes multi-timbrais ou 16 instrumentos simultâneos) isso tocando-se uma única tecla por vez na melodia em cada canal ou pista nessa gravação sequencial. Já se tocarmos 5 ou 10 teclas simultâneas (todos os dedos ao mesmo tempo) em cada pista, daria 2560 notas de polifônia necessária. É claro que os ouvidos mal distinguem 8 ou 10 timbres diferentes ao mesmo tempo (de 3 ou 6 notas cada tocadas a dedos que daria 64 de polifonia), imagine-se 256 ou mais. Dai a 128 serem mais do que suficientes num teclado (que seria midi + performance/composto), isso para boas perfomance.
 

Cronologia

  • Século IX - primeiras formas polifônicas em que se tem o registro (organum). "Musica enchiriadis" é publicado.
  • Século XII - auge da composição de organa.
  • Século XIV - formas polifônicas da Ars Nova.
  • Séculos XV e XVI - contraponto renascentista.
  • Século XVII - contraponto barroco.
  • Século XIX - contraponto no estilo de Albrechtsberger (harmonia movimentada).
  • Século XX - contraponto dodecafônico de Schoenberg.


Música profana:música tocada por instrumentos, não sagrada, pode ser em vários ritmos, e pode ser cantada
 

Linha do tempo

Esta é uma linha do tempo com os principais e mais influentes compositores medievais, separados por período e estética musical.
Nota: Algumas datas possuem apenas valor aproximado.


Principais compositores medievais

  • Hildegarda de Bingen
  • Leonin
  • Pérotin
  • Adam de la Halle
  • Philippe de Vitry
  • Guillaume de Machaut
  • John Dunstable
  • Guillaume Dufay
  • Johannes Ockeghem

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